O equalizador é uma das ferramentas mais utilizadas em todos os estúdios e alguns erros de equalização estão sempre presentes no nosso dia a dia.
O bom uso da equalização torna uma mix clara, aberta, com brilho e punch, e faz com que todos os instrumentos se situem com harmonia dentro da música (ou também conhecido como sit in the mix).
Já uma equalização não tão legal deixa a música embolada, sem punch e sem clareza, os instrumentos brigam uns com os outros por espaço dentro da música.
Como todo mundo, já cometi minha cota de erros de equalização e aprendi a não repetir algo que dá errado duas vezes.
Por isso, separei alguns dos erros que eu já cometi – e que você também pode estar cometendo.
Confira 8 erros de equalização que você deve evitar. Acompanhe!
1. Filtros em todos os lugares (menos nos lugares certos)
Filtros hi-pass e low-pass são muito úteis em inúmeros situações.
Um filtro bem aplicado ajuda a limpar a mix (e o instrumento) e garante que cada parte da mix atue na faixa de frequência que ela deve atuar, sem entrar na frente de outros instrumentos, ficando claro e nítido.
O erro aqui é relativamente simples: filtrar demais ou não filtrar nada.
Não usar quando precisamos
Suponhamos que você está mixando uma bateria acústica, gravada em uma sala de tamanho médio com equipamentos de um home studio.
Primeiramente não há nada de errado nisso, mas algumas providências podem ser tomadas para evitar dores de cabeça.
É muito comum os bateristas esbarrarem na cápsula dos microfones ou nos pedestais, ou ainda alguma peça da bateria se mover ou andar.
Geralmente isso gera um rumble, um ruído muito grave que parece um sopro. Ele não é exatamente audível, ele é sentido e parece um borrão na track.
Ele atua lá pela faixa de 20 a 40Hz, as vezes um pouco menos as vezes um pouco mais, mas ele precisa ser prevenido!
Portanto aqui vai como não cometer o primeiro erro, filtre o super low dos instrumentos com um filtro suave (6 dB/oct em 30 Hz por exemplo). A frequência não é cortada totalmente e os rumbles são evitados.
Usar demais quando precisamos
Os filtros também podem ser usados para controlar instrumentos abelhudos ou tirar frequências que não são necessários.
Vamos tomar de exemplo uma guitarra com muita informação nos agudos. Uma forma de aliviar isso é um LP filter bem leve, lá pelos 10k ou 15k.
O que pode dar errado aqui? Filtrar demais.
É o próximo erro para evitarmos!
Se o filtro possuir uma curva muito íngreme ou atuar em frequências mais baixas você vai perder informações importantes do instrumento e vai prejudicar a sua mix com certeza!
Ambas as situações se aplicam a LP e HP, portanto fique atento aos dois!
2. Não equalizar em mono
Talvez essa seja uma surpresa para você, mas equalizar em estéreo não é uma boa ideia.
Quando um instrumento é aberto no pan, ele sofre uma leve defasagem de fase e uma redução no volume.
Além disso, o grave tem a tendência de permanecer no centro (já que são ondas multidirecionais) então pode ser que você considere um instrumento muito grave, sem ele realmente estar.
Em mono – ou seja no centro da imagem estéreo – você tem as frequências equilibradas (sem cortes ou aumentos), portanto consegue tomar decisões melhores sobre a sua equalização.
3. Confiar em presets
Configurações pré definidas podem ser um excelente ponto de partida para configurar plugins, mas esse não é o caso com equalizadores.
É simplesmente impossível um fabricante de plugins adivinhar exatamente o que o seu bumbo precisa para essa música, por isso presets podem ser o caixão do seu bumbo!
Presets são uma excelente fonte de conhecimento, você pode aprender o que grandes mixers costumam fazer em seus trabalhos e ter ideias sobre como usar a equalização melhor, mas não deixe-o dominar a sua mix.
4. Boosts de mais e cortes de menos
Pode não parecer um erro de equalização, mas é: um dos grandes segredos da equalização é cortar mais e adicionar menos.
Claro, você pode ressaltar frequências que fazem o instrumento se destacar na mix, mas dar boost em frequências demais suja a mix, reduz o seu headroom e atrapalha a relação entre as frequências próximas.
O pensamento para equalizar se concentra mais em retirar o que está ruim do que adicionar o que está bom. Se está bom, para que mexer?
Para evitar esses problemas, existem duas abordagens: Boost Wide e Cut Narrow.
Dê boosts amplos
Os boosts alteram alguns aspectos do seu instrumento, mas se usados com cautela são bons para a sua mix.
Quando você aumenta uma frequência, é de se pensar que ela ressalta as características do instrumento, ou da mix (ou de qualquer coisa).
O fato é que se ela faz bem, não quer dizer que em excesso vai fazer muito bem. Sim, não foi a melhor das frases, mas é a verdade.
Quando os boosts são muito fechados (com o Q alto) uma nota fica em evidência e a fonte soa desbalanceada – o bumbo não é feito só da nota fundamental – e tudo fica pior (ao invés de melhorar).
A melhor forma de executar boosts é deixá-lo amplo (Q baixo) e com pouco ganho, assim tudo continua mais uniforme, as relações de fase são mantidas – já que o ganho não está absurdamente alto – e as frequências que fazem bem para o instrumento estão em evidência, mas na medida certa.
Faça cortes estreitos
É difícil achar uma tradução para narrow que soe bem, mas o que importa aqui é você melhorar a sua equalização!
Ao contrário dos boosts, quando for realizar um corte em alguma frequência mantenha o Q alto, tentando atingir apenas aquela frequência específica. Mas por quê?
Como falamos antes, a base da equalização é retirar o que não é bom. Esse pensamento também é chamado de equalização subtrativa e acredite, todos os profissionais que você admira fazem bom uso dela.
O principal ponto na equalização subtrativa é procurar e retirar as frequências que não agradam, mas sem alterar (ou correr o risco de alterar) as vitais para o instrumento. O melhor exemplo disso é o notch filtering.
5. Cortar (ou dar boost) em frequências só porque alguém te disse que você deve fazer
A internet é um meio maravilhoso de adquirir conhecimento, perseguir e stalkear nossos mixers e produtores musicais preferidos e conhecer novos plugins e ferramentas.
Mas além disso, é também uma fonte de várias informações duvidosas e receitas prontas que não funcionam para todo mundo.
Eu sempre tento ter em mente que cada situação é uma situação e ninguém pode prever tudo que vai acontecer em todas as mixes e em todas as músicas.
Existem vários guias interessantes com pontos de partida para você trabalhar a equalização de instrumentos e você conhecer todos!
Mas nem todas as guitarras precisam de boosts em 3k ou cortes em 200 Hz.
Lembre-se sempre de ouvir o instrumento no contexto e tomar decisões de acordo com o que a música precisa.
Outro ponto é dar boost ou cortar a mesma frequência em 5 instrumentos. Não! Não faça isso.
Sua mix e os instrumentos vão ter um corte em uma mesma frequência e isso cria um furo perceptível dentro da música.
Não confie em fórmulas para emagrecer em 15 dias! Nem em fórmulas mágicas para equalizar.
6. Equalizar sem pensar no plano geral
Uma música funciona com vários instrumentos juntos, guiando o ouvinte através de uma viagem musical – de certa forma.
Cada música tem uma necessidade e um propósito diferente e isso é muito importante ao tomar decisões na mixagem.
Pensar no plano geral é considerar o que precisa ser alterado, porque e o que é comprometido com isso.
Na prática, isso significa que é preciso analisar com o instrumento se comporta na mix e se há outro instrumento em conflito com ele.
Uma boa maneira de testar isso é usar o mute. Se você está em dúvida se a guitarra realmente precisa do boost em 3k, use o mute ao longo de alguma parte da música para perceber se sente ou não falta desse up.
Você pode aplicar essa ideia a todos os instrumentos!
Um bom exemplo é o bumbo e o baixo.
Eles tem suas fundamentais em frequências próximas – as vezes na mesma frequência – e dependendo do estilo de música possuem papéis diferentes.
Por exemplo, na música eletrônica o bumbo mantém a batida e o andamento da música, no rock, funk ou pop o baixo segura o groove e mantém o ritmo e a levada, com o bumbo como parte da seção rítmica, segurando a leva e o tempo.
Aqui entra o que falamos sobre comprometer algo. O que é mais importante na sua música, bumbo ou baixo? Qual frequência vamos ressaltar em um e cortar em outro?
Essas decisões você é o único que pode tomar e nenhum preset vai ajudar nessa hora! Aqui é quando você pensa no plano geral e toma decisões baseadas nele.
7. Equalizar quando você não precisa
Todos já fizemos isso. “Esse bumbo precisa de um pouquinho de nada de grave.”, “Esse vocal precisa de um cabelímetro de agudo”. Na verdade, estava tudo perfeito e a gente piorou tudo.
O grande segredo dos bons mixers é saber quando não fazer nada. Portanto se algo soa bem, encaixa bem na sua mix e te agrada, faça um favor a música e não equalize nada!
8. Não dar espaço para os instrumentos respirarem
A mixagem nada mais é do que harmonizar os instrumentos e arranjos dentro da música. E o maior erro de todos é não deixar espaço para os seus instrumentos fazerem o que devem fazer
A equalização subtrativa é tão famosa porque ela faz exatamente isso: limpa frequências e cria espaços para o que há de melhor se destacar e todos terem o seu espaço.
Esse “espaço” significa ser ouvido e entendido dentro da mix, com clareza e com a atenção desejada.
Aqui podemos relacionar dois pontos: equalizar pensando no plano geral e cortar apenas o necessário.
Tirar 80Hz do bumbo e dar um leve boost também de 80Hz no baixo, permite que ambos cumpram a sua função e tenham o seu espaço adequado dentro da mix. Todos saem ganhando!
Agora que você já conhece 8 erros de equalização muito comuns, é hora de tirá-los para sempre da sua vida!
Se você se lembrar de mais erros, não deixe de me falar nos comentários abaixo. Aproveite para me contar se esse artigo foi útil para você também.
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