Ao longo de muitos anos o produtor musical conquistou seu espaço, ganhando prêmios e ajudando artistas a alcançar o sucesso com hits inesquecíveis e canções sensacionais.
George Martin fez história produzindo os álbuns dos Beatles, Terry Date fez história com o Pantera, Quincy Jones fez história com mais artistas do que eu consigo contar e por aí vai.
Mas de onde esses caras vieram? Como surgiu a profissão que eternizou músicas e profissionais e ajuda músicos a atingirem o máximo do seu potencial?
Pensando nisso, juntei meu conhecimento sobre o trabalho e a história do produtor musical – e da produção musical – com uma pesquisa extensa sobre tudo que envolve a produção no mundo da música.
Eu fiz uma pesquisa gigantesca para conhecer melhor a história, o trabalho, as obrigações e o que torna alguém um produtor musical.
Falo tanto sobre as características de uma produção grande como o que faz um produtor que trabalha com bandas independentes.
Vamos dar uma olhada em o que diabos um produtor musical faz, quem é e aonde vive.
Acompanhe!
Como tudo começou
A profissão de produtor musical não foi criada, ela foi uma consequência.
Para entender melhor, precisamos voltar ao começo das gravações em estúdio. A primeira forma de gravação é chamada de gravação acústica (ou acoustical recording). Ela consistia em um diafragma captando uma fonte sonora e cortando diretamente em um sulco espiral (uma forma de vinil bem arcaica).
Com a evolução dos métodos (uma ajuda do Thomas Edison) e vários outros engenheiros brilhantes, chegamos a gravação como conhecemos, uma mistura da gravação elétrica com a magnética (que depois se tornou digital).
Foi descoberto que a eletricidade pode transformar ondas de som em corrente elétrica e através de um gramofone podia ser amplificado.
Foi aqui que surgiu o overdubbing.
Com a gravação elétrica era possível tocar novamente o que foi gravado e gravar uma nova parte em uma nova faixa.
A evolução lógica são as fitas que permitiam mais informações e posteriormente a gravação digital, com DAW`s (digital audio workstations como o Pro Tools, Reaper e Logic) e interfaces digitais. Mas vamos voltar ao overdubbing.
Inicialmente, a gravação de uma música era simples: vários músicos juntos, em um mesmo estúdio, tocando uma música ao mesmo tempo. Vários takes eram feitos e o melhor deles ia parar nas rádios.
Um processo simples e direto, não tinha produção, não tinha mixagem e não tinha masterização (não como conhecemos pelo menos).
Um arranjador ou compositor criava as musicas, letras e melodias, passava para os artistas e esses gravavam.
Mas aqui entra um cara que é a base da nossa conversa: o engenheiro de som.
Nessas sessões de gravação, o engenheiro era responsável por captar o som da fonte adequadamente, balancear os volumes e enviar para a fábrica cortar o vinil.
Com o tempo, os engenheiros de gravação foram se tornando peças-chave no processo.
A descoberta do estéreo e a evolução dos processos de gravação, exigiu que os engenheiros de som fizessem parte do processo criativo.
Eles ajudaram as bandas a experimentar e criar novos sons e ideias e aos poucos integraram o processo de produção do álbum ou da música. Todos esses acontecimentos possibilitaram o surgimento do produtor musical. Um profissional-chave para a produção de um álbum.
A transição de engenheiro de gravação para produtor musical
Em um espaço de 20 anos a música mudou completamente.
Se pegarmos entre 1950 e 1970, temos dois mundos completamente diferentes. Duas coisas influenciaram muito para a segmentação das obrigações na gravação de um álbum: gravadoras e processos.
A gravação multicanal deu mais trabalho aos engenheiros e a pressão (e intervenção) das gravadoras fez com que mais pessoas fossem envolvidas no processo.
O pensamento aqui é muito simples: é preciso alguém que faça o que a gravadora quer no processo de gravação.
O engenheiro não seria capaz de fazer as duas tarefas ao mesmo tempo, seria trabalho demais, então porque não pegar aquele cara que já conhece a banda, já trabalhou com ela antes e teve bons resultados, e pedir para ele produzir?
Agora sim, temos o produtor musical.
A primeira função do produtor musical era de gerenciamento. Organizar os horários, orçamento, quem vai fazer o que e quando.
Gravadoras sempre querem gastar menos e ter mais, então era preciso controle. Depois de tudo controlado, o produtor repassava a visão e os objetivos da gravadora para o processo. Mas como tudo na vida, isso mudou com o tempo.
Caras como Quincy Jones e Leonard Chess (esse último com a sua própria gravadora, a Chess Records), perceberam que a produção é uma arte, e que o potencial máximo de um artista poderia ser atingido com a direção adequada, e isso era sucesso na certa.
Definitivamente, o produtor musical tinha o seu papel garantido e comprovado em qualquer trabalho musical.
Assim, ele se tornou uma peça-chave no processo, passou não só a gerenciar, mas a produzir e conduzir a banda ao longo das suas gravações.
Em projetos maiores mais pessoas estão envolvidas no loop.
O produtor é quem dá o direcionamento musical e trabalha com a banda, mas ele não vai necessariamente mixar o CD, fazer o papel de engenheiro e masterizar também.
Na verdade, essa é uma tendência moderna, com os home estúdios e tudo mais, vamos falar disso mais para frente.
A evolução do engenheiro para o produtor gerou várias mudanças. E uma delas é que foram criados vários tipos de produtores musicais.
Os tipos de produtores musicais
O que um produtor musical faz? Ele faz arte. Só que de uma forma diferente de um artista ou banda.
Nem sempre um produtor musical é um músico espetacular. Rick Rubin sequer toca um instrumento.
O que um produtor precisa é enxergar além do óbvio. Se no processo dominar teoria musical, DAW`s, processamentos e mais loucuras, melhor ainda.
Vamos falar um pouco sobre como os produtores musicais formaram seus caminhos ao longo dos anos.
A arte
Sim, é um título manjado haha. Mas é um título verdadeiro.
Em um trabalho com uma produção musical de verdade, ou seja, não é um cara que só vai gravar, mixar e masterizar a sua banda (isso não é produzir), o produtor musical parte de um princípio, uma visão.
É essa visão que ele segue ao longo do álbum e todos os esforços são feitos para alcançar essa visão.
Talvez essa seja o melhor resumo do que é a “arte de produzir”, fazer todos os esforços necessários para seguir a sua visão para o trabalho, tirar o máximo dos músicos e entregar hits inesquecíveis para as massas.
Para entender melhor como essa visão funciona, vamos conversar um pouco mais sobre como um álbum é feito.
Os processos de um álbum
A melhor forma de entender por completo e com clareza qual o papel de um produtor musical em um álbum (ou um EP ou um single) é usar como base a forma como os projetos das grandes gravadores eram conduzidos.
O básico de todos esses projetos é: há um grande orçamento, existem direitos e deveres da banda e os processos são divididos por diversos profissionais. Mas no final, o que importa é o produto.
E se ele não prestar, bom, a culpa vai sempre ser sua (até porque você podia passar o projeto caso não achasse interessante, né?).
A melhor forma de entender o papel do produtor é pensar que ele é o capitão do navio.
Mas ele não consegue fazer tudo sozinho, um navio é grande demais para um homem só pilotar – bem como um álbum.
Parte I: Trabalhando com a banda
A primeira obrigação do produtor musical é trabalhar com a banda. Mas lembre-se que o trabalho final é da banda. A foto na capa do álbum é da banda. Quem vai tocar essas músicas 137 mil vezes em 400 mil shows é a banda.
Por isso, você precisa conhecer bem as expectativas da banda, alinhar com as suas próprias e deixar clara qual é a sua visão para o projeto.
Mais para a frente vamos falar detalhadamente sobre as etapas de produção musical, quais as tarefas envolvidas nesse trabalho árduo.
Parte II: $$
No início de um projeto, é tarefa do produtor identificar as necessidades do artista e do todo.
Assim ele monta o orçamento necessário.
Qual estúdio é o ideal para gravar bateria? Preciso de um estúdio grande? Pequeno?
Posso fazer os overdubs no mesmo estúdio ou posso usar um mais barato? Qual o timbre ideal? Preciso contratar músicos de apoio?
E o rango? E as bebidas? E o engenheiro de gravação? Quanto vai custar mixar? Quanto vai custar masterizar? (É comum gravadoras quererem escolher quem vai realizar essas tarefas).
Enfim, o produtor musical define a grana. Cada um desses custos envolve um processo.
Manter as gravações dentro do cronograma, administrar a grana, contratar os músicos de apoio, supervisionar o engenheiro de som e garantir que os membros da banda não façam merda (pelo menos durante as gravações).
1,2,3 REC
No fim das contas o que interessa é apertar o play e começar a gravar. Mas antes disso você precisa colocar ordem na casa, organizar o pagode e começar a trabalhar.
Por isso agora vamos falar da prática e responder aquela clássica pergunta que bandas fazem: “Por que eu preciso contratar um produtor musical para a minha banda?”.
Escutando demos
Existem duas formas de você conhecer uma banda sem trabalhos prévios: indo a um show e escutando demos.
São as referências existentes para você pensar se vale (ou não) a pena trabalhar com essa galera. O primeiro contato com a música é o melhor momento para você tomar algumas decisões.
A música mexe com você? Você curte o som? Vê espaço para trabalhar? Ou acha tudo uma merda? De jeito nenhum você vai trabalhar com esses caras?
Uma simples demo decide todo o rumo de uma jornada. Ao analisar demos ou um show, você precisa deixar de lado a visão de músico. Esquece que o guitarrista errou todos os solos e o baixista finge que toca.
Você pode melhorar isso e ter sucesso? Essa banda pode se beneficiar do seu trabalho? Aqui a resposta é muito simples: sim ou não.
Se for sim, vamos para o próximo passo, se for não, melhor correr atrás do próximo gig.
Fazendo contato
Hoje em dia o contato entre banda e produtor pode se dar de três formas:
- A banda já conhece o trabalho do cara, escuta, gosta e procura ele para fazer o trabalho;
- O produtor vai atrás de bandas que acha interessante e tem potencial e oferece o seu trabalho;
- A gravadora sugere produtores que ela gosta e acha que vão funcionar bem para o projeto.
De toda forma, o primeiro contato é o mais importante.
Eu coloquei a parte do contato depois das demos porque mesmo que a banda tenha entrado em contato com você, é importante dar uma olhada nos materiais.
Vai que esse trampo não é o certo para você? Melhor passar do que fazer merda.
O contato entre banda e produtor é importante. Como quase tudo na vida, a primeira impressão é a que fica, então ela tem que ser certa.
Se o processo funcionar muito bem e todos gostarem do trabalho, o produtor musical acaba virando o elemento a mais da banda (pelo menos em um mundo perfeito), e tudo começa aqui.
E a melhor forma de ter o primeiro encontro com qualquer banda é ir a um ensaio. E leve cerveja, pelo menos duas para cada integrante, assim todo mundo fica feliz.
Lembre que a primeira impressão é a que fica. Essa é a hora de você passar confiança, falar sobre tudo que adora no som dos caras (ou das minas) e fazer com que eles confiem em você como profissional.
Só não invente merda no caminho, todos vão estar prestando atenção a cada palavra que sair da sua boca. Além disso, o ensaio é uma oportunidade para você começar a pré-produção de pelo menos uma musica.
Mergulhe nela, trabalhe alguns pontos, dê dicas. Não adianta guardar suas opiniões para você e perder o trabalho.
Lance suas ideias, trabalhe junto com a banda. Se suas propostas melhorarem a música e forem positivas, ponto para o produtor musical. Se não, melhor ficar calado.
Falando sobre o projeto
Quando vocês forem bater o primeiro papo sobre o trabalho e os objetivos, você já precisa ter a visão para o projeto clara na sua cabeça.
Oras, já teve a oportunidade de escutar o som, ver um show e ainda não sabe para o onde o projeto vai? Assim não vai funcionar.
Aqui é a hora de colocar as cartas na mesa, contar o que você pensou para o projeto, como planeja atingir isso, conhecer as expectativas da banda e o que eles esperam do álbum e das músicas.
Batam um papo, troquem ideias e bebam uma cerveja. Mas não custa lembrar que a palavra final sempre é da banda, com gravadora ou não (tudo bem, nem sempre, mas na maioria das vezes.)
Combinando o pagamento
Obviamente entramos em um assunto delicado. Grana sempre é delicado. Por isso como o produtor musical do projeto você deve tocar tudo com calma e tranquilidade.
Se o trabalho é para uma gravadora, provavelmente você terá um contrato elaborado e com muitas páginas a sua frente. Leve para um advogado de confiança e evite dor de cabeça.
Mas se você está negociando direto com a banda, tudo fica mais simples. Uma coisa é regra: sempre vão rolar negociações. O valor final depende de vários fatores, mas é importante você falar qual é o seu preço e negociar a partir daí.
Se o trampo vale muito a pena, a banda é sensacional e você acha que o processo será tranquilo, negociar não faz mal.
Mas se por qualquer motivo você acha que terá dificuldades (o baixista não treina em casa, baterista não toca no tempo, vocal precisa de autotune), bom, aí o trabalho começa a ficar mais trabalhoso (e mais redundante).
Por isso, pense nesses fatores ao negociar e feche um valor justo pelo trabalho que você terá com o álbum.
Reparando bem, eu não falei sobre contrato com a banda para formalizar o trabalho, e eu não falei por um motivo: tudo ainda pode ir por água abaixo.
I want it all
Por mais nada a ver que esse intertítulo seja, ela tem um papel muito importante: você deveria ver tudo que a banda tem de material. Tudo.
Demos de celular, de ensaio, gravações antigas, vídeos fuleiros do youtube. Faça uma pesquisa completa e peça para a banda fornecer todo o material que eles consideram relevante, e os que não consideram também.
Você precisa conhecer cada ponto do trabalho deles, escutar as músicas, identificar potenciais sucessos e fracassos e trabalhar a partir daí. I want it all.
Orçamento
Chegamos em um momento crucial do trabalho. Aqui, você já bateu um papo com a banda, foi em alguns ensaios, conhece o material que eles tem disponível e está pronto para começar a trabalhar.
Bom, vamos com calma.
Quando você pensa na elaboração do orçamento do trabalho, devem estar claras na sua mente quatro coisas:
- Quanto a banda pode gastar (orçamento total);
- Quanto tempo vocês tem para fazer o álbum;
- Qual a sua visão para o álbum;
- Experiência da banda em estúdio.
Vamos andar por cada um desses tópicos.
Quanto a banda pode gastar
Bem óbvio né. Se os caras tem 500 reais para fazer um álbum completo (incluindo a sua parte), nem se dê o trabalho de começar o trampo. Ao não ser que seja muito interessante para você gravá-los agora. De toda forma, o orçamento disponível é o seu limite, mas quanto mais coisas você conseguir, com o mesmo valor, melhor.
Acredite, você pode ganhar ainda mais a confiança da banda dessa forma.
Quanto tempo você tem para fazer o álbum
Uma outra visão para esse tópico é: “Quanto tempo vai levar para fazer o álbum”. É comum bandas terem datas de lançamento e planos já feitos, por isso, você precisa pensar bem em quanto tempo vai durar o processo completo. Considerando edição, mixagem, masterização e até a prensagem do CD se houver.
Qual a sua visão para o álbum
A sua visão influencia muito nos custos, principalmente se decidir explorar ideias novas ou precisar de instrumentos caros e peculiares. Se a ideia é uma batera larger than life (estilo John Bonham), não dá para gravar em estúdio de 3×3 em um porão, né? Isso influencia no seu orçamento.
Você busca um som específico para esse projeto, monte o orçamento com o objetivo de concluir a sua visão, mas sem extrapolar o orçamento.
Experiência da banda em estúdio
A primeira vez no estúdio é um amontoado de emoções. Ela pode ser uma verdadeira merda, ou um verdadeiro sucesso. Depende de vários fatores, maturidade da banda, qualidade do produtor/engenheiro, objetivo, qualidade do estúdio e por aí vai.
Boa ou não, as experiências anteriores da banda devem ser consideradas ao criar o orçamento. Bandas experientes, entrosadas e bem ensaiadas costumam levar menos tempo para gravar suas músicas, gravam takes melhores e adiantam o processo.
Repare que não estou falando de fatores básicos como técnica ou afinação. Entrar no estúdio são outros 500, pondere o melhor que pode ser feito, sem prejudicar a qualidade do produto final ou a banda.
Com esses 4 pontos claros fica mais fácil montar um orçamento acurado. Lembre-se de considerar também a pré-produção, enventuais rangos e cerveja se for cabível.
Se for necessário alugar equipamentos, isso também entra no orçamento, mas tente sempre incentivar a banda a reunir equipamentos disponíveis com amigos, ou leve alguns que você tem em mãos e acha que combinam com o som.
Segue um exemplo de como seria um orçamento para a produção de um álbum de 10 faixas, onde serão necessários alguns músicos contratados, aluguel de instrumentos e afins (valores e quantidades totalmente estimados). Vamos dar uma olhada:
Descrição | Preço | Quantidade (dias) | Total |
Estúdio de ensaio (pré) | R$ 250,00/dia | 4 | R$1.000,00 |
Estúdio de gravação (bateria) | R$ 800,00/dia | 5 | R$ 4.000,00 |
Estúdio para overdubs (voz, guitarra, etc) | R$ 400,00/dia | 10 | R$ 4.000,00 |
Aluguel amp JCM800 | R$ 75,00/dia | 6 | R$ 450,00 |
Pianista | R$ 120,00/música | 4 | R$ 480,00 |
Produtor musical | R$ 5.000,00 | 1 | R$ 5.000,00 |
Comes, bebes e eventualidades | R$ 600,00 | 1 | R$ 600,00 |
TOTAL | R$ 15.530,00 |
Existem algumas formas de reduzir esses custos. Por exemplo, se você tem a sua sala para fazer overdubs, então esse custo pode ser reduzido drasticamente, já ele pode entrar no seu custo como produtor.
Se um amigo de alguém tem um bom amp, é possível bater um papo com ele e conseguir o amp em troca de algumas cervejas.
Essa também é hora de ser criativo!
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Pré-produção
Bons estúdios de gravação são consideravelmente mais caros que estúdios de ensaio. Por isso, investir em alguns dias de pré-produção em estúdios de ensaio pode ser uma escolha inteligente.
Se você tem o seu próprio estúdio e pode fazer tanto a pré produção quanto a gravação lá, melhor ainda. Mas lembre de cobrar por isso.
A pré-produção é a hora de entrar de cabeça em todas as músicas. Multiplicar o que você fez no primeiro ensaio por 100x e trabalhar de verdade.
A pré é o que vai fazer você ganhar tempo na hora de gravar, por isso é aqui que devem ser trabalhadas as estruturas das músicas, tom, partes e toda e qualquer coisa que vá influenciar na gravação.
Se a pegada do batera varia (ou a dinâmica, hahaha) essa é a hora de dar umas dicas e melhorar. Isso serve para todo mundo!
Se o vocal não chega nas notas e não consegue manter a afinação, pode ser preciso abaixar o tom da música. O importante aqui é revirar e remexer as músicas, se algo te incomoda, pare, fale e trabalhe.
Se deixar para depois vai ser pior, porque você vai ter que consertar na sua DAW, e mesmo que seja simples, você poderia estar fazendo outra coisa ao invés de substituir todas as caixas da bateria porque o batera não tocou com pressão.
A pré dá a oportunidade de conhecer melhor as músicas e identificar quais são as melhores e quais são as mais fracas.
Isso é normal, até as melhores bandas tem músicas que não estão a altura das outras. Se você tem ideias que podem melhorar as músicas mais fracas sempre o faça, o resultado é um álbum melhor com mais músicas boas.
Em resumo, eis o que será decidido na pré:
- Tempo/BPM;
- Tom;
- Estrutura da música;
- Guias / tracks básicas;
- Seleção das músicas à serem gravadas.
Tudo isso deve ser resolvido na pré. Se você tem 15 músicas, mas 5 não soam tão legais, faça um álbum de 10 músicas! Se por algum motivo divino você deseja mais que 10 faixas, escolha a melhor das 5, no máximo as 2 melhores.
Queremos ganhar tempo aqui, não ficar empacado em 5 músicas que nem sequer vão entrar no álbum.
Gravação
Agora sim, entramos no estúdio!
Esse é o momento que muitas bandas e produtores esperam. O período de gravação é o mais esperado na maioria dos projetos. Aqui, as ideias são colocadas em prática e a música começa a tomar forma.
Para começar, é importante esclarecer uma diferença: produtor e engenheiro de som.
Apesar de eu não ser muito fã de usar a palavra “engenheiro” (nos EUA, um engenheiro é qualquer pessoa que constrói ou projeta algo, no Brasil, para ser um engenheiro você precisa de um diploma :P), vamos tratar o responsável técnico pela gravação como engenheiro de som.
É bem provável que você mesmo será o engenheiro responsável na maioria dos projetos, é bem raro você entrar em estúdio e ter um assistente responsável por isso nos dias de hoje.
Mas como estamos falando estritamente de produção musical aqui (vamos tratar do engenheiro de som em outro texto), vamos focar no papel do produtor.
Na hora da gravação, você já tem todo o CD organizado, pensado e produzido. Bom, pelo menos a maior parte dele!
Agora é a hora de tirar o som que você imaginou quando teve a visão para o projeto (lembra dela?).
O engenheiro de som pode ajudar muito nesse processo, principalmente se ele for experiente. Ao longo dos anos ele já experimentou muitas técnicas e diferentes ideias de vários produtores.
Por isso, sempre bata um papo com ele antes de começar a microfonar tudo, vai que ele tem uma ideia ou conhece um truque que vai ser bem útil?
É legal lembrar que nessa hora é você que manda. Se algo der errado, ou o resultado final não for o esperado, não adianta jogar a culpa no engenheiro, é você que paga o pato!
Por isso, altere e troque tudo o que você julgar necessário. Se o som da caixa de madeira não está encaixando, troque por uma de metal. O mesmo serve para microfones, posição dos mics, peles, pré amps, equalizadores, etc e etc.
Tem uma brincadeira que diz que: se o engenheiro deixar clipar o sinal de entrada, ele está errado, mas se o produtor fizer isso tudo bem, ele é o produtor!
Brincadeiras a parte, é mais ou menos assim que funciona.
REC!
Quando chega a hora de apertar record e começar a gravar, você precisa estar atento!
A direção musical é uma parte importante da gravação. Aqui, caímos naquele velha história de “dinâmica”, “pegada” e tudo mais.
Se o batera não tá batendo nos tambores e na caixa com a pegada que você deseja, dê um toque, bata um papo, fale com ele que a “dinâmica” foi construída lá na pré produção, com as nuances da música, as alterações de chimbal fechado, aberto, ride e etc.
Algo que eu sempre vejo em bateristas é a tendência em tocar pratos muito alto e as peças bem mais baixo. Isso não é legal!
Não falo nem por questão de pratos vazarem no mic, se vire para arrumar isso com uma boa microfonação!
Mas se você pegar o som dos overs, vai ver que eles vão estar bem desbalanceados.
Ajustar o volume ao tocar é o que os grandes bateras fazem e um dos segredos para um bom som de bateria. O mesmo funciona para todos os instrumentos.
Prestar atenção para o guitarrista não fazer bends ao tocar power chords, o baixista prestar atenção no bumbo e segurar o groove, o vocal cantar com feeling sem esquecer da afinação.
E esses são só alguns pontos. Com mais sessões de gravação, mais coisas você vai aprender!
Uma boa dica é manter um caderno sempre por perto, ou um bloco de notas no computador. Idealmente, você teria um assistente para anotar tudo o que você pedir.
Marcar os takes que você mais gostou, listar quais overdubs precisam ser feitos e tudo mais.
Ter um caderno a mão é sempre bom para eventuais anotações.
Procure ter também as letras das músicas, assim, é bem mais fácil acompanhar cada trecho da canção e entender em qual parte da músicas você está.
Outro jeito interessante de fazer isso é criar marcadores dentro da sessão na sua DAW, assim você pode acompanhar cada parte da música sem se complicar.
Pós-produção
Legal! Tudo gravado, bonito, do jeito que você queria, certo?
Depois de passar pelo processo de gravação, chegamos a pós-produção, a hora de garantir que tudo está certo, todos os instrumentos foram gravados, todas as partes estão ok e a música está pronta para a mix.
Basicamente, a pós é composta de duas partes: edição e afinação.
Como hoje em dia a maioria dos trabalhos são gravados separadamente (um instrumento de cada vez), nem tudo fica bem alinhado no tempo e variações são bem comuns, por melhor que seja o músico e a banda. Isso acontece principalmente com overdubs (que eu considero parte do processo de gravação).
Depois de garantir que todas as partes estão gravadas, é interessante editar os instrumentos para que todos eles fiquem “no tempo”. Ou seja, sigam uma mesma referência de andamento.
Se tudo foi gravado separado, o ideal é começar pela bateria, colocando-a no grid acompanhando o metrônomo.
Depois, desligue o metrônomo e edite os outros instrumentos seguindo a bateria! Claro, antes de começar, confira se todas as viradas e passagens estão ok.
Eu falo isso porque na música final o beat não vai estar lá. Não haverá uma referência marcando o tempo para você.
Na verdade, isso pouco importa. Vários sucessos inesquecíveis foram gravados sem o metrônomo e com poucas edições, mas isso em um tempo onde os músicos eram excelentes e o processo de gravação totalmente diferente.
Enfim, comece pela bateria e use-a como referência depois! Já vi uma galera falando sobre “atrasar os instrumentos em relação a bateria”. Ao invés de acompanhar “na cabeça”, há um pequeno atraso em relação ao beat.
Bom, sinceramente, eu acho que a edição já não é perfeita. É muito difícil identificar o transiente exato e alinhá-lo com o de outro instrumento em instrumentos com muito ganho e distorção (guitarras, por exemplo).
Então a diferença natural é o suficiente para mim.
A afinação também é uma parte da pós-produção. Ela pode ser sutil em muitos casos, mas e outros ela é indispensável para a música sair conforme planejado.
Vocais principais são os que mais sofrem com com a afinação, mas não custa conferir também solos principais. As vezes algumas variaçõezinhas provocam um desconforto no ouvinte.
Backing vocals sofrem bem menos com isso, já que na mix eles não chamam tanta atenção, principalmente com efeitos.
Tanto se você vai fazer a mixagem por conta própria ou enviar para um mixer, esses passos são indispensáveis para um bom trabalho!
Mixagem
Tudo editado, afinado e bonito. Pronto para o próximo passo!
Antigamente, o engenheiro de gravação era responsável pela mix. Nada mais do que ajustar os volumes de todos os instrumentos captados e enviar para a prensagem.
Com o avanço das tecnologias de gravação, esse processo ganhou mais atenção e também mais profissionais especializados.
Eddie Kramer, Chris Lord-Alge e Andy Wallace são apenas alguns dos profissionais que marcaram a história da música, tanto produzindo e mixando, quanto só mixando.
Aqui, temos duas abordagens: mixar você mesmo ou enviar para um profissional mixar.
Os gringos falam muito sobre contratar um profissional diferente para mixar o projeto se você foi o produtor responsável.
Isso vem muito de você já estar acostumado com as músicas e ter uma ideia fixa sobre como elas devem soar.
Apesar de isso ser bom, já que você tem a visão clara do que quer, pode ser que alguns detalhes e pontos importantes estão sendo negligenciados por você já estar acostumado àquelas músicas.
Um profissional de fora traz uma nova visão, limpa e livre de vícios.
Pode ser bem interessante trazer novas ideias para a mesa!
Como produtor é você quem dá o norte do trabalho. Por isso, é importante contar com profissionais de confiança e sempre trocar uma ideia com eles sobre a sua visão do trabalho.
Além disso, antes de mostrar para a banda as primeiras versões da mix, ouça-as primeiro (se possível vá até o estúdio de quem for mixar) e faça algumas alterações que julgar necessário antes disso.
Assim, ao enviar para a banda você já estará mais próximo das versões finais e vai evitar dezenas de alterações.
É sempre importante lembrar que a mixagem é a hora de colocar todos os elementos juntos, em harmonia.
Se o bumbo soa lindo sozinho, mas um lixo junto com os outros instrumentos, é hora de repensar esse som!
E, não se engane, a mixagem também é hora de ser criativo e experimentar coisas diferentes.
Masterização
A masterização é a cereja do bolo.
Falando em mercado brasileiro, é muito comum que quem gravou vai fazer a mix e a master.
A master é a hora de “colar tudo”. Fazer com que soe “larger than life” e tudo o mais.
Atualmente nós vivemos no meio da loudness war. Uma guerra onde a minha música precisa ser mais alta que a sua. Bem, não caia nessa!
Um bom engenheiro de masterização é a melhor pessoa para te falar qual é o volume médio ideal, tanto em RMS quanto em dB’s.
O Steven Slate, da Slate Digital, sempre diz que o RMS em torno de 9 é o ideal para músicas pop hoje em dia, mas eu acho isso muita coisa! Entre 11 e 14 você está bem servido.
Existem alguns estúdios de masterização brasileiros que fazem um excelente trabalho.
O Midas tem uma sala bem legal, mas o mais conhecido é o Classic Master. Quando possível, eu envio meus trabalhos para master no Sage Audio, em Nashville. Mesmo com o dólar alto os preços são muito bons e o trabalho é excelente!
Promoção
Bom, o seu trabalho não termina depois da master!
Agora é a hora de colher os frutos desse trabalho árduo que foi produzir e gravar mais um trabalho.
Isso serve tanto para sua própria carreira quanto para a banda.
Se você está trabalhando com uma banda iniciante, dê alguns toques sobre promoção e divulgação para eles.
Reforce a importância de um trabalho visual legal e de estar presente nas principais plataformas digitais (Spotify, Deezer, Rdio, Soundcloud, etc).
A promoção é uma parte importante do processo, é ela que vai abrir novas portas para você trabalhar com novas bandas e para as bandas ganharem público, tocarem em mais festivais e mostrarem seu trabalho para as pessoas!
Concluindo
O trabalho de produção musical vai muito além de gravar bandas, fazer uma mix e master e soltar para o mundo.
É do produtor a responsabilidade de gerenciar o projeto, o orçamento e a visão da música.
Claro, no Brasil muitas bandas não tem o orçamento disponível, mas é uma cultura que podemos criar aos poucos.
Grandes bandas trabalham com grandes produtores (como o Anhaia e o Liminha) e você ja escutou muitas músicas produzidas por esses caras.
Crie um portfólio e coloque seus trabalhos lá. Ajude a banda a divulgar o seu novo CD e vamos para o próximo projeto!
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