A maioria dos meus posts trazem conhecimento teórico sobre tratamento acústico.
Hoje, vamos explorar um caminho diferente: vou mostrar o passo a passo de um dos meus projetos mais recentes de tratamento acústico!
Vamos explorar cada etapa, e cada decisão tomada sobre a melhor maneira de tratar a sala que faz parte da produtora do André Finotti.
Vamos começar?
Primeira parte: desafios e estudo inicial
Quando o André entrou em contato comigo, ele tinha um objetivo relativamente simples: precisava tratar acusticamente uma sala que estava sendo usada para edições de vídeo, para conseguir fazer montagens de áudio para os seus trabalhos.
Além do sistema estéreo, no futuro ele também planeja colocar o Dolby Atmos. Importante manter isso em mente!
O primeiro passo é sempre o mesmo, para qualquer projeto de tratamento acústico: pegar as medidas, algumas fotos, e fazer um estudo para entender mais sobre os modos da sala.
Com as dimensões da sala (4,73 C x 3,86 L x 2,70 A), eu uso a Amoc Room Mode Calculator, ou a calculadora da Calico Acoustics – que é mais bonitinha – para ter uma visão inicial dos modos e proporções da sala.
As duas informações mais importantes desses gráficos são as seguintes:
- As proporções da sala são ótimas! Estão dentro das proporções que trazem equilíbrio acústico, de acordo com os estudos do Richard Bolt;
- Temos um acúmulo de modos bem grande entre 120Hz e 200Hz. Isso significa que precisamos prestar bastante atenção nos médio-graves.
Estudo 3D do Tratamento Acústico
Se você acompanha o blog e já leu os materiais sobre tratamento acústico, então provavelmente entendeu o que falei anteriormente.
Mas nada ganha de uma imagem que mostra isso na prática!
O próximo passo é montar uma visualização 3D com as minhas sugestões em termos de bass traps, painéis acústicos, e difusores. Além de suas posições e quantidades.
Legenda:
- Brancos: bass traps;
- Roxos: painéis acústicos broadband;
- Azuis: difusores.
Vamos destrinchar essas imagens 3D.
Pontos de reflexão primária
Usando a mesa como referência, a primeira etapa é tratar os pontos de reflexão primária. Para isso, vamos considerar o sweet-spot, ou seja onde o ouvinte vai ficar sentado, como 38% da maior dimensão da sala.
Esses são os pontos que refletem as ondas médias e agudas (que são direcionais) de volta para o ponto onde está o ouvinte.
No nosso projeto, os 2 painéis de cada lado dos monitores e os 2 logo acima do ponto de escuta são os responsáveis por cuidar das reflexões primárias.
O objetivo aqui é criar uma reflection-free zone, uma zona livre de reflexões!
Aumentando a quantidade de painéis (2 de cada lado e 2 no teto), damos mais espaço para otimizar o ponto do ouvinte – com uma área maior de absorção.
Assim, é possível mover os monitores e a sua cadeira para chegar na posição ideal com mais liberdade.
Modos da sala e ondas estacionárias
Saindo das reflexões primárias, chegamos nas ondas estacionárias.
Essas ondas, estão muito relacionadas aos modos da sala. Os modos são aquelas frequências que têm o comprimento de onda igual à dimensão da sala.
Por exemplo: 150Hz tem um comprimento de onda de 2,28m (λ = velocidade do som/frequência = 343m/s/150 = 2,287).
Então, uma sala que tem uma das dimensões com 2,28m, vai “vibrar” em 150Hz conforme as ondas são emitidas e refletidas, e se tornam estacionárias. Ou seja, ondas iguais em um mesmo sentido, mas com direção diferente.
Isso, claro, se não houver nenhuma forma de absorvê-las!
Então, o próximo passo é tratar essas ondas. Para isso, vamos aplicar painéis nas paredes laterais, mas mais ao fundo, no teto, e também no fundo da sala.
Em cada lado, temos um painel (roxo) e um difusor (azul), invertidos.
O objetivo é quebrar o paralelismo entre as paradas, absorver reflexões secundárias e terciárias, e reduzir o impacto das ondas estacionárias.
O mesmo vale para o painel no teto (que na versão final acabaram sendo dois, pois produzi um a mais).
Além disso, pensando no sistema Dolby Atmos, esses painéis e difusores na segunda metade da sala estão posicionados para cuidar das reflexões desse sistema.
Os difusores ao fundo ajudam nas reflexões primárias, nas ondas estacionárias e também no monitoramento no sofá do fundo da sala.
O mesmo vale para os painéis e difusores que estão à frente da mesa e atrás dos monitores de referência.
Bass Traps
Por último, o mais importante!
Pelas medidas da sala – e pelo estudo que fizemos anteriormente – sabemos que o grave é o ponto principal aqui.
Na verdade, é o maior problema dos home studios pelas medidas das salas.
O que acontece é que os modos ficam muito próximos entre si, e concentrados nos graves e médio graves.
Te garanto que esse problema não acontece no Abbey Road hehe.
Os blocos brancos são os bass traps. A regra é simples: o grave se acumula nos cantos – ponto de baixa velocidade de onda e alta pressão.
Porém, temos um ponto técnico importante: esses bass traps são baseados em material poroso, que trabalha por fricção. As partículas de ar se “chocam” com a lã de rocha, e são dissipadas através de calor.
Logo, o que você quer é velocidade máxima!
Por isso colocamos os traps nos cantos, mas em um ângulo de 90º, para aproveitar uma regra chama de 1/4 wavelenght rule, ou regra do 1/4 do comprimento de onda.
O que a imagem ilustra é que em 1/4 do comprimento de onda daquele modo (ou seja, da dimensão) é onde temos velocidade máxima de onda.
Logo, colocar os bass traps inclinados maximiza nossa absorção!
Também seria possível fazer isso colocando o bass trap paralelo à parede, porém afastado.
O lado negativo é que isso ocupa muito espaço! Principalmente se o pé direito não for alto.
Resultado final
Agora é a hora de mostrar como ficou! Curioso/a?
E aí, curtiu? Me conte nos comentários!
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